Essa semana minha avó faleceu, já faz alguns anos que a morte desperta para mim mais do que a tristeza da perda… ela também me proporciona o desconforto do reencontro. Depois de tantos anos sem ver familiares próximos e distantes a pergunta mais recorrente é sempre: você casou, você tem filhos e você namora.
Claro que ultimamente estou nessa fase de querer gritar para o mundo quem eu sou, de mudar minha atitude passiva de simplesmente viver e deixar as pessoas concluírem o que elas quiserem, mas definitivamente no velório e cremação da sua vó não é o lugar mais adequado para fazer essa revelação e acabar roubando a cena de um momento tão importante.
A vida é tão irônica que exatamente no dia que preciso viajar e passar dois dias fingindo que sou uma solteirona sem amor o censo do IBGE passou aqui em casa, resultado: em um prazo de 2 dias consegui negar duas vezes p/ diversas pessoas e para o Brasil inteiro que sou lésbica.
A morte sempre nos faz pensar sobre o quanto deixamos as coisas passarem em branco e que a tendência é que no futuro a gente se arrependa de não ter dito e feito mais.
Só que dessa vez, ali em pé ao lado do caixão com tios e primos que não via há pelo menos 9 anos, eu pensei em como é engraçado ser mãe: originar pessoas tão diferentes (fisicamente, intelectualmente e moralmente), estavam ali juntos preconceituosos, tolerantes, ignorantes, simpatizantes e “cegos”. Todos dispostos a pelo menos suportar pessoas e coisas que não gostavam para alegrar uma mãe (que nem mais viva estava).
Como diz minha avó paterna: As pessoas se unem pelo amor ou pela dor.
Eu já me separei da família pelo amor e ultimamente só venho me unindo a família pela dor. Espero que a próxima vez seja pelo amor.
Apenas por curiosidade, porque “escondeu” o ser lésbica do Censo???
Eu sou juntada com meu marido, por união estável, e declarei ao Censo que sou casada! Você não declarou assim? Afinal, em termos de IBGE, o que importa é se vivem em situação conjugal e não se assinaram um papel confirmando isso para nosso amigo Lula, né?
Acho o FIMDAPICADA.com.br o governo interferir no amor do cidadão como se isso fosse questão de segurança pública! O que, me diga, mudará para o governo, se duas mulheres, ou dois homens, assinarem o bendito papel dizendo que “sim, assumimos juntos a responsabilidade de sermos unidos!”… pelamordedeus, esse mundo ainda me é muito esquisito!rs
Adorando o blog!
Oi Mariana,
Não falei p/ o Censo pq passaram aqui exatamente quando estava viajando por causa da morte da minha vó, aí quando voltei fiquei sabendo que eles haviam passado aqui no meu prédio já.
Por isso falei no texto q em 2 dias acabei negando direta ou indiretamente…
Obrigada pela visita
Liana
Uma amiga minha fez uma parada super legal, ao se tocar que a família só se reunia mesmo ao redor de um funeral ou coisa parecida, resolveram fazer um grande encontro a cada dois meses no máximo, para que não precisassem associar os encontros de família à algo triste e fúnebre… Ela disse que se divertem aos montes…
Sinto muito pela sua vó!
Beijos!
Oi Ti,
Essa tática de encontros mensais faço com meus amigos, porque senão a correria do dia-a-dia acaba mesmo afastando as pessoas. Com a família o problema não é só a correria, mas sim a diferença de crenças, intolerância e modos de vida completamente opostos.
Não teria diversão nos encontros e sim desentendimentos…rs
Beijos
Liana, que texto dolorido! Gosto da forma como expressou…
Ei, não se sinta culpada. A humanidade tem mesmo esse dom de “negar”, “aceitar”, “acreditar”…só enxergam o que querem, é mais conveniente.
Ensaio sobre a cegueira talvez seja o clássico que melhor descreva essa nossa humanidade, na sua essência!
Desculpe o desabafo…ando numa sensibilidade só!
Beijos solidários!
Oi Elza,
Comecei a ler Ensaio sobre a cegueira 3 vezes e sempre alguma coisa acaba me fazendo parar, vou tentar pegar novamente e ir até o fim.
Beijos
Liana